top of page

A Greve Geral de 14 de junho e o protagonismo jovem na política brasileira

Os motivos que levarão o Brasil parar na próxima sexta-feira e como a juventude atua como parte importante na história do país

Divulgação: Sindicato dos trabalhadores do poder judiciário federal no estado de Minas Gerais (SITRAEMG)

As centrais sindicais e os militantes opositores ao Governo Federal convocam, para esta sexta (14), uma paralisação geral que levanta bandeiras contra medidas polêmicas do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e da sua equipe de ministros. O início do fim de semana deve ser marcado por paralisações trabalhistas e manifestações nas ruas de todo o país. Insatisfeitos com a Reforma da Previdência, com o Pacote Anticrime e com os cortes de verba na educação, os grevistas procuram adeptos ao movimento através de uma intensa divulgação nas redes sociais. A pretensão é fazer deste evento uma continuação dos protestos dos dias 15 e 30 de maio, que possuiu grandes dimensões nos pontos estratégicos de todo o Brasil.


As manifestações de maio e o corte de verbas na educação

Os dias 15 e 30 de maio deste ano foram marcados por manifestações em todo o país. A iniciativa se consolidou após o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciar um corte de 30% nas verbas de todas as universidades federais do país. Com o discurso de que as instituições são improdutivas e produtoras de balbúrdia, o corte prejudica o funcionamento das reais atividades que acontecem neste ambiente, que vão desde a pesquisa, até o ensino e a extensão.

Cecília Bastos/USP Imagens: Estudantes e professores de universidades e institutos federais manifestando contra o corte de verbas na Av. Paulista.

O estudante de jornalismo Fabrício Nogueira, de 19 anos, participou dos manifestos pró-educação em sua cidade, Belo Horizonte. Ele descreveu o movimento como uma luta completamente necessária em prol do futuro e definiu a participação dos estudantes na causa como um processo fundamental que exibe um desenvolvimento do pensamento crítico e da visão política. Afirmou também que os jovens na rua honram todos aqueles que lutaram perante as repressões da Ditadura Militar (1964-1985).

Dessa forma, a greve do dia 14 deve ser mais uma oportunidade para os alunos, técnicos e professores pressionarem as autoridades contra o contingenciamento de recursos.


A Reforma da Previdência

A luta contra a aprovação da Nova Previdência é a principal pauta da Greve Geral. A proposta, formulada pelo Ministério da Economia, desagradou os sindicatos e grande parcela dos trabalhadores brasileiros. Baseada em um sistema de capitalização, a ideia define uma idade mínima de aposentadoria de 65 anos para homens e 62 para mulheres, com no mínimo 20 anos de contribuição. Estes números são elevados, colocando em consideração a expectativa de vida da população de algumas regiões mais periféricas do país. Um exemplo é o Maranhão, onde - segundo o IBGE - os homens vivem em média 67 anos.

A proposta também limita as opções de aposentadoria por tempo de contribuição e afeta o sistema de BPC (Benefício de Prestação Continuada). Segundo o site "Que reforma é essa?", esse cálculo pesará no bolso dos idosos, das mulheres, dos trabalhadores do campo e de demais grupos vulneráveis da economia nacional.


O Pacote Anticrime

O Pacote Anticrime do Ministro da Justiça Sérgio Moro também gerou incômodos e insatisfações por parte da população brasileira. Colocando em risco uma série de direitos consolidados durante a história, a proposta abre brecha para o aumento da população carcerária brasileira e, dessa forma, fornece uma variedade maior de perfis que podem ser recrutados pelo crime organizado.

Outro ponto muito criticado da medida é a ampliação de situações em que a violência policial pode ser considerada legítima defesa.

O Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) trabalha na elaboração de um estudo contra dez das medidas do pacote, as quais considerou inconstitucionais. A Faculdade de Direito do Largo do São Francisco (USP), convocou na terça-feira, 4 de junho, uma manifestação que reuniu mais de 70 organizações sociais questionando a eficácia da proposta. Dentre todas as demandas da população na sexta-feira, o Pacote Anticrime também deve sofrer questionamentos.


O protagonismo jovem na Greve Geral e na história do Brasil

El País: Jovens manifestantes durante as manifestações do dia 15 de maio, em São Paulo.

Para o estudante secundarista Luís Vinícius Monteiro, de 17 anos, é importante que as pessoas de sua idade estudem a história do país, pois compreender e saber relacionar eventos do passado é de extrema importância para que se saiba quando eles estarão prestes a se repetir. Além disso, ele considera múltiplos os resultados da história na vida dos jovens, desde a formação crítica do indivíduo até a construção de um cidadão engajado na política. Ele foi um dos articuladores do movimento contra o corte de verbas da educação no Instituto Federal onde estuda, através do Centro de Reivindicações dos Direitos Estudantis (CRDE), e das manifestações do dia 15.

Assim como Luís Vinícius, mais jovens se engajaram nessa luta e também estarão presentes na Greve Geral. A juventude carrega consigo a energia e a ambição de mudar o mundo. O sonho coletivo, quando colocado em primeiro lugar pela faixa etária, acaba se impulsionando de forma concreta na sociedade, e resultando, dessa forma, em mudanças reais no sistema. A mocidade foi, muitas vezes, protagonista na história do país e apresentou demandas para revolucionar uma realidade que gerava insatisfação na maioria do povo brasileiro. Vamos conferir agora, alguns desses momentos.


A luta contra a Ditadura Militar

O seriado Anos Rebeldes, do roteirista Gilberto Braga, foi exibido pela Rede Globo no ano de 1992. Durante 20 episódios ambientados na época da Ditadura Militar, o programa levou ao público a história de jovens adultos que dividiam os dramas pessoais, típicos da idade, com a militância política que procurava resgatar o tão almejado regime democrático no país.

TV Globo: Os protagonistas interpretados por Cássio Gabus Mendes e Malu Mader em Anos Rebeldes, 1992.

Assim como os protagonistas do seriado, muitos jovens brasileiros lutaram contra o regime opressor que assolou o Brasil durante vinte e um anos. O Movimento Estudantil se inspirou no "maio de 68" francês e colocou em movimento uma série de ações que demonstravam a resistência do grupo ao projeto conservador dos militares. Dessa forma, entidades como a União Nacional dos Estudantes (UNE) foram postas na ilegalidade. O regime tentava de todas as formas abafar as vozes da juventude, vigiando as universidades e censurando produtos artísticos.


"Caminhando e cantando e seguindo a canção

Somos todos iguais, braços dados ou não

Nas escolas, nas ruas, campos, construções

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora, que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora e não espera acontecer!"

Pra Não Dizer que Não Falei das Flores, composição de Geraldo Vandré, e hino de uma juventude que lutava contra a Ditadura Militar.

"Diretas Já!"

Os jovens brasileiros também estiveram nas ruas, entre 1983 e 1984, durante a Campanha das "Diretas Já". O movimento reivindicava eleições presidenciais diretas no Brasil. Os estudantes, que viram seus ideiais unificarem com os do restante da sociedade civil fizeram inúmeras intervenções em busca da democracia.

Na manhã de 15 de janeiro de 1985, o Plenário do Congresso Federal decretou o fim da Ditadura Militar, a eleição de Tancredo Neves e a aprovação de uma Assembléia Constituinte que assegurou a realização das Eleições de 1989. Mais tarde naquele dia, a banda Barão Vermelho - extremamente popular entre a juventude da época - comemorou o sucesso do movimento na primeira edição do Rock in Rio, com a música "Pro Dia Nascer Feliz".

Quem: Apresentação da Banda Barão Vermelho no Rock in Rio de 1985, quando o vocalista Cazuza comemorou a abertura democrática do Brasil.

"Agora 'vão bora'

Estamos meu bem por um triz

Pro dia nascer feliz

Pro dia nascer feliz

O mundo inteiro acordar

E a gente dormir..."

Pro Dia Nascer Feliz, composição de Cazuza e Frejat, música que marcou o fim da Ditadura Militar, em 1985.

O Movimento dos "Caras-pintadas"

Fernando Collor de Mello (PRN) foi eleito Presidente da República nas eleições de 1989. Pouco tempo após a posse, foi revelada a sua participação em variados escândalos de corrupção. A juventude brasileira se mobilizou e, com as cores da bandeira estampadas no rosto, iniciavam a campanha "Fora Collor" em todo o país.

Eder Chiodetto/Folhapress/RollingStone: Jovens se manifestando contra o governo de Fernando Collor de Mello (PRN).

Em 1992, mergulhado na pressão das manifestações, o presidente renunciou o cargo pouco antes de sofrer um processo de impeachment do Congresso Nacional.

As Jornadas de Junho de 2013

Wikimedia Commons: Manifestantes lotam a Avenida Paulista em junho de 2013.


Primeiro para contestar os aumentos nos preços das passagens do transporte público e depois para demonstrar a insatisfação com o descaso dos governos em áreas como a saúde e a educação, os movimentos de junho de 2013 reuniram milhares de jovens nas ruas de todo o país.

Grupos variados de diversos espectros políticos se movimentaram durante a Copa das Confederações, momento em que todo o mundo voltava os olhos ao Brasil. A onda de insatisfação derrubou os índices de aprovação da então presidenta Dilma Roussef, que viu sua popularidade cair de 57 para 28%.


A Primavera Secundarista

Em 2016, os jovens de São Paulo ocuparam diversas escolas que seriam fechadas pelo Governo Estadual. A medida de reorganização educacional demitiria centenas de professores da rede estadual e deixaria as salas de aula superlotadas. As ocupações fizeram com que a decisão fosse revogada e influenciou os jovens do restante do Brasil a tomarem as mesmas medidas contra alterações semelhantes na educação de seus estados.


"#EleNão"

O "#EleNão" reuniu, no dia 29 de setembro de 2018, jovens de mais de 114 cidades brasileiras e também de 50 outros países, todos demonstrando a rejeição à candidatura do então deputado Jair Bolsonaro (PSL) para a presidência da República. Bolsonaro tem altos índices de rejeição entre a classe após séries de declarações homofóbicas, racistas e misóginas.

O grupo do Facebook "Mulheres contra Bolsonaro" foi um dos principais articuladores da manifestação que virou alvo de inúmeras fake news durante a campanha eleitoral.

Lia Bianchini: Jovens participando do movimento "#EleNão" em Curitiba.

Um novo capítulo na história

Com tudo que vimos até aqui, podemos dizer que a Greve Geral desta sexta-feira tem grande potencial para ser um novo capítulo escrito pela juventude na história do Brasil. Apoiar o movimento - nas ruas e nas redes sociais - é extremamente importante para demonstrar insatisfação com medidas que atingem o progresso do país, prejudicam o seu povo e colocam em risco o seu futuro. É preciso coragem e ação, para que no futuro, esta Greve seja lembrada como uma parte bem sucedida da luta dos brasileiros pelos seus direitos. Confira a programação dos atos na sua cidade, adeque-os a sua realidade e convide os seus amigos para fazer a diferença.


Publicado em: 13 de junho de 2019

Texto: Raphael Castilho






Comments


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Nenhum tag.
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page