A Arte e Liberdade Por Outro Olhar
A gente cresce ouvindo as pessoas dizerem que todo mundo merece uma segunda chance. No entanto, ao longo da vida vemos que as pessoas, às vezes, falam uma coisa e fazem outra. Quando li o objetivo da exposição que a Apac de São João del-Rei realizou no Centro Cultural UFSJ, a primeira coisa que eu pensei foi “é muito idealista”.
O que estava escrito era o seguinte: "A Arte Liberta" vem para mostrar a sociedade como o incentivo artístico contribui para recuperação dos detentos, assim como desperta dons artísticos. Entre fotografias, pinturas, colchas e outros artigos, mostra-se como a arte não tem restrição e nem donos.
O trecho acima demonstra igualdade (sem restrição, nem donos), demonstra que pode haver algo maior que nós e nossos erros (incentivo artístico) e demonstra, acima de tudo, uma fé inabalável na capacidade que a arte tem de tocar o ser humano. Ao visitar a exposição eu entendi um pouco dessa fé.
Foi em um sábado a tarde, eu estava de bobeira no centro histórico, lembrei da exposição e entrei para ver. Não era a única lá. Uma senhora bem vestida e um rapaz mochileiro estavam no local. Ao passar pela senhora, que lia um dos textos expostos, ela me disse ao acaso: “Eles usam muito o termo “privados de liberdade”, é bem triste”. “É a realidade”, eu pensei. Mas, enquanto olhava as obras e pensava a respeito de tudo o que aquilo significava - detentos expondo suas obras, pessoas discutindo e debatendo a condição desses detentos - além de tudo que as Apacs em suas tentativas de ressocialização propõem, comecei a achar que talvez, só talvez, houvesse algo maior do que isso. E que talvez eles não fossem tão “privados de liberdade” assim.
Quando tiveram acesso a uma câmera, eles fizeram belas fotos. Com o acesso ao material, eles produziram artesanato e cerâmica. Bom, quem diz aquilo sobre segundas chances, normalmente também diz que o trabalho dignifica o homem.
Deixem os homens trabalharem, pintarem, produzirem. Deixem os homens livres da maneira que eles ainda podem ser. Sabe por quê? Porque A Arte Liberta. Estejamos nós presos fisicamente ou apenas presos a nossos argumentos e preceitos.